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OCEANOS JÁ NÃO OFERECEM REFÚGIO AOS TUBARÕES

OCEANOS JÁ NÃO OFERECEM REFÚGIO AOS TUBARÕES

O tubarão-azul, anequim e tubarão-branco, são alguns exemplos icónicos de tubarões que vivem em mar aberto, também conhecidos como pelágicos. A grande maioria destes poderosos predadores passa a vida a migrar por extensas áreas dos oceanos, as quais incluem zonas de atividade piscatória comercial.

 

Muitas populações de tubarões pelágicos estão a decrescer, sendo que quase metade das espécies se encontra ameaçada de extinção. Para avaliar com mais detalhes o impacto da pesca industrial sobre os tubarões pelágicos, uma equipa internacional que para além do CIBIO-InBIO incluiu investigadores de mais de 100 instituições, entre elas o Marine Biological Association Laboratory (Plymouth, Reino Unido), estimou o quanto as zonas de pesca industrial sobrepõem-se aos habitats destes tubarões. O artigo então publicado traz um mapeamento global dos oceanos e, segundo o qual, poucas são as áreas onde os tubarões podem refugira-se da pesca comercial.

 

Nuno Queiroz, investigador do CIBIO-InBIO e primeiro autor do artigo, explica que “estudos anteriores indicavam que aproximadamente metade das capturas de tubarões nas áreas de pesca comercial são de tubarões pelágicos de grande porte. Contudo, utilizando somente esta informação era muito difícil estimar o impacto da pesca comercial, pois os dados disponíveis poderiam ser incompletos. Para além disso, não havia ainda um conhecimento detalhado sobre quais seriam as áreas mais utilizadas pelas diferentes espécies de tubarões migratórios”.

 

Os investigadores do artigo agora publicado recorreram então a uma análise comparada entre os movimentos de tubarões pelágicos e o de embarcações de pesca comercial. As informações foram obtidas através de dispositivos de localização via satélite, os quais permitiram seguir o movimento de 1.681 tubarões pelágicos de grande porte, representantes de 23 espécies. Já os dados sobre os movimentos das embarcações foram obtidos de seus sistemas de segurança e anti colisão, que também dispõem de dispositivos de localização via satélite.

 

Observamos que, em média, 24% do espaço utilizado ao mês pelos tubarões coincide com as zonas de pesca comercial, as quais são responsáveis pela captura da maioria dos tubarões pelágicos”, mais explica Nuno Queiroz. Já as áreas do oceano frequentadas por espécies ameaçadas de extinção apresentam uma taxa de sobreposição ainda maior com as zonas de pesca, podendo alcançar 76% do espaço utilizado pelos tubarões, como é o caso do tubarão-azul do Atlântico Norte, espécie de grande interesse comercial.

 

O estudo também demonstra que algumas das áreas oceânicas de maior importância para os tubarões estão expostas a taxas de pesca mais intensas. Os autores sugerem que para proteger estes tubarões será necessário implementar medidas de proteção e propõem como solução a delimitação de grandes áreas de proteção marinha ao redor dos habitats de maior importância para os tubarões.

 

 

Artigo original: Queiroz N, Humphries NE, Couto A, Vedor M, da Costa I, Sequeira AMM, Mucientes G, Santos AM, Abascal FJ, Abercrombie DL, Abrantes K, Acuña-Marrero D, Afonso AS, Afonso P, Anders D, Araujo G, Arauz R, Bach P, Barnett A, Bernal D, Berumen ML, Bessudo Lion S, Bezerra NPA, Blaison AV, Block BA, Bond ME, Bradford RW, Braun CD, Brooks EJ, Brooks A, Brown J, Bruce BD, Byrne ME, Campana SE, Carlisle AB, Chapman DD, Chapple TK, Chisholm J, Clarke CR, Clua EG, Cochran JEM, Crochelet EC, Dagorn L, Daly R, Devia Cortés D, Doyle TK, Drew M, Duffy CAJ, Erikson T, Espinoza E, Ferreira LC, Ferretti F, Filmalter JD, Fischer CG, Fitzpatrick R, Fontes J, Forget F, Fowler M, Francis MP, Gallagher AJ, Gennari E, Goldsworthy SD, Gollock MJ, Green JR, Gustafson JA, Guttridge TL, Guzman HM, Hammerschlag N, Harman L, Hazin FHV, Heard M, Hearn AR, Holdsworth JC, Holmes BJ, Howey LA, Hoyos M, Hueter RE, Hussey NE, Huveneers C, Irion DT, Jacoby DMP, Jewell OJD, Johnson R, Jordan LKB, Jorgensen SJ, Joyce W, Keating Daly CA, Ketchum JT, Klimley AP, Kock AA, Koen P, Ladino F, Lana FO, Lea JSE, Llewellyn F, Lyon WS, MacDonnell A, Macena BCL, Marshall H, McAllister JD, McAuley R, Meÿer MA, Morris JJ, Nelson ER, Papastamatiou YP, Patterson TA, Peñaherrera-Palma C, Pepperell JG, Pierce SJ, Poisson F, Quintero LM, Richardson A, Rogers PJ, Rohner CA, Rowat DRL, Samoilys M, Semmens JM, Sheaves M, Shillinger G, Shivji M, Singh S, Skomal GB, Smale MJ, Snyders LB, Soler G, Soria M, Stehfest KM, Stevens JD, Thorrold SR, Tolotti MT, Towner A, Travassos P, Tyminski JP, Vandeperre F, Vaudo JJ, Watanabe YY, Weber SB, Wetherbee BM, White TD, Williams S, Zárate PM, Harcourt R, Hays GC, Meekan MG, Thums M, Irigoien X, Eguiluz VM, Duarte CM, Sousa LL, Simpson SJ, Southall EJ & Sims DW (2019) Global spatial risk assessment of sharks under the footprint of fisheries. Nature, DOI: 10.1038/s41586-019-1444-4.

 

O artigo agora publicado insere-se no Global Shark Movement Project (www.globalsharkmovement.org), um projeto coliderado pelo CIBIO/InBIO com o objetivo de estudar o comportamento, ecologia e promover a conservação de tubarões à escala global.

 

 

Imagens:
Imagem 1. Um exemplar de tubarão-azul, Prionace glauca, uma das espécies analisadas no estudo agora publicado | Créditos de imagem: Neil Hammerschlag
Imagem 2. Carcharhinus longimanus, ou galha-branca-oceânico, mais um representante dos tubarões pelágicos analisados no estudo agora publicado | Créditos de imagem: Neil Hammerschlag
Imagem 3. O tubarão-tigre, Galeocerdo cuvieri | Créditos de imagem: Neil Hammerschlag

2019-07-24
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