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Identificar abelhas é agora mais fácil

Identificar abelhas é agora mais fácil
Equipa internacional de investigadores desvenda códigos de barras de ADN das abelhas ibéricas, essenciais à monitorização correta destas espécies.

Em tempos de crise de biodiversidade é urgente conhecer as espécies existentes e disponibilizar ferramentas que permitam a monitorização das suas populações, assim como perceber as relações entre espécies e identificar os fatores de ameaça à sua conservação. Os códigos de barras de ADN são sequências curtas de material genético (os nucleótidos do ADN) que permitem distinguir as espécies, tal como os códigos de barras permitem distinguir os produtos nos supermercados.

O conjunto de dados agora publicado contém 514 espécies e 1.059 exemplares. As espécies incluídas representam cerca de 47% da diversidade de espécies de abelhas ibéricas e 21% da diversidade de espécies endémicas, complementando os dados pré-existentes. Se considerarmos as abelhas presentes em Portugal, passam-se agora a conhecer os códigos de barras de ADN de 91% das espécies. Denis Michez, entomólogo da Universidade de Mons refere que "Dados de taxonomia, distribuição e identificação de espécies são os elementos fundamentais a desenvolver para monitorar corretamente as espécies.”

As abelhas estão entre os insetos mais familiares e o seu papel como polinizadores é amplamente reconhecido. Ao visitar flores para coletar pólen e néctar, as abelhas possibilitam a reprodução de centenas de milhares de espécies de plantas com flores, incluindo muitas espécies agrícolas que são importantes para a dieta humana.

Os espécimes foram coletados entre 2014 e 2022 e estão depositados em 4 coleções, uma nos Países Baixos, no Centro de Biodiversidade Naturalis, e em três coleções em Portugal: a coleção do FLOWer Lab da Universidade de Coimbra, a coleção do Museu de História Natural e Ciência da Universidade do Porto (MHNC-UP) e na coleção de referência InBIO Barcoding Initiative (IBI) da Associação BIOPOLIS (Vairão, Portugal). "É fulcral a existência de coleções entomológicas de referência acessíveis às quais os investigadores possam recorrer para estudo e comparação de resultados” refere Sónia Ferreira, investigadora do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (BIOPOLIS-CIBIO) da Universidade do Porto. 

Com o lançamento da iniciativa da Comissão Europeia para proteger os polinizadores europeus, tiveram início vários projetos europeus focados em polinizadores, incluindo as abelhas. Os trabalhos desenvolvidos decorrem no contexto do projeto "Genómica da Biodiversidade da Europa” (Biodiversity Genomics Europe, em inglês), o maior projeto europeu ligado à genómica para estudar a biodiversidade e está interligado a outros projetos nacionais como o CULTIVAR, e a projetos europeus em curso sobre taxonomia (Orbit, Arcade), lista vermelha (Pulse) e tendências populacionais (Safeguard). 

A Península Ibérica é reconhecida como um hotspot global para a diversidade de abelhas na bacia do Mediterrâneo. Mais de 1.100 espécies de abelhas são encontradas neste território, o que corresponde aproximadamente a 5% das 20.000 espécies conhecidas globalmente. Cerca de 100 destas espécies são endémicas, o que significa que não podem ser encontradas em nenhum outro lugar do mundo.

Pela sua elevada diversidade, as espécies de abelhas são difíceis de identificar na Península Ibérica e existem (ainda) poucos recursos de identificação publicados. "A dificuldade na sua identificação tem impedido a compreensão das suas comunidades e dos desafios que enfrentam” afirma Thomas Wood, investigador do Centro de Biodiversidade Naturalis e que estuda as abelhas ibéricas desde 2014.

Apesar deste importante contributo, há ainda mais de meia centena de espécies de abelhas não representadas nas coleções de referência de códigos de barras de DNA. O trabalho iniciado em 2023, e liderado pelo investigador Hugo Gaspar do FLOWer Lab da Universidade de Coimbra, foca no conhecimento sobre a distribuição e a identificação das abelhas portuguesas. O projeto ARCADE incluirá a análise de milhares de espécimes em coleções nacionais históricas e contemporâneas, e a amostragem em habitats favoráveis um pouco por todo o país.


Artigo:
Wood T, Gaspar H, Divelec RL, Penado A, Silva TL, Mata V, Veríssimo J, Michez D, Castro S, Loureiro J, Beja P, Ferreira S (2024) The InBIO Barcoding Initiative Database: DNA barcodes of Iberian Bees. Biodiversity Data Journal 12: e117172

Imagens:
Imagem 1. Exemplo de uma abelha da família Apidae com ampla distribuição na Europa. Anthophora podagra Lepeletier, 1841 | Créditos de imagem: Thomas Wood

Imagem 2. Exemplo de uma abelha da família Megachilidae com ampla distribuição na Europa. Pseudoanthidium eximium (Giraud, 1863) | Créditos de imagem: Thomas Wood

2024-03-06
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