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Estudo das múltiplas dimensões das alterações climáticas revela diferentes impactos sobre a biodiversidade em todo o mundo

Estudo das múltiplas dimensões das alterações climáticas revela diferentes impactos sobre a biodiversidade em todo o mundo

A redução das camadas de gelo (ice sheets) e o derretimento das calotas polares, bem como os impactos desses fenómenos na biodiversidade, são consequências bem conhecidas das alterações climáticas. Mas um novo estudo de uma equipa internacional que inclui investigadores do CIBIO-InBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos), publicado recentemente pela revista Science, revela que os impactos sobre a biodiversidade serão igualmente graves noutras regiões do mundo. Quando as múltiplas dimensões das alterações climáticas são analisadas, verifica-se que várias regiões são ameaçadas por diferentes aspectos. Por exemplo, é previsto que os trópicos, sejam altamente afectados por alterações locais da temperatura e precipitação, o que conduzirá a climas completamente diferentes dos actuais. Os resultados deste estudo expõem a complexidade dos efeitos das alterações climáticas na biodiversidade e os desafios que se apresentam na previsão destes impactos e na preservação dos ecossistemas naturais num mundo em mudança.

 

“As regiões polares receberam uma atenção substancial porque estão a passar por um grande aumento na temperatura. A extensão dos climas polares decrescerá, o que implica uma redução no habitat disponível para espécies árticas e sub-árticas”, explica o investigador principal do estudo Miguel Araújo, coordenador do pólo do CIBIO-InBIO na Universidade de Évora, professor no Imperial College em Londres e investigador no Museu Nacional de Ciências Naturais em Madrid. Miguel acrescenta que “Independentemente destas alterações, o aquecimento nos trópicos deverá criar condições climáticas completamente novas, e que actualmente não são experimentadas por nenhuma espécie em qualquer lugar na Terra. A eventual capacidade das espécies se conseguirem adaptar a estas novas condições climáticas é ainda uma questão em aberto. Existe o risco de negligenciarmos estas informações vitais, uma vez que o aumento da temperatura nas regiões polares é mais fácil de compreender”.

 

Algumas espécies enfrentam eventos extremos, outras enfrentam longas deslocações

Este estudo, que resulta de uma colaboração internacional que inclui o CIBIO-InBIO/Universidade de Évora, o CSIC (Museu Nacional de Ciências Naturais de Madrid) e as universidades de Copenhaga, Helsínquia e o Imperial College de Londres, é o primeiro a fornecer uma visão extensiva e detalhada do impacto de diferentes padrões de variação das alterações climáticas na biodiversidade.


Através da utilização de 15 modelos disponibilizados pelo IPCC (Painel Internacional para as Alterações Climáticas), os investigadores examinaram a forma como diferentes aspectos inerentes às mudanças na temperatura e precipitação poderiam afectar a persistência das espécies em todo o mundo. A maioria dos indicadores de mudanças climáticas disponíveis foi revista e aplicada ao século XXI, e os padrões emergentes de alterações climáticas foram relacionados com as ameaças e oportunidades previstas para a biodiversidade.


Segundo Raquel Garcia, investigadora do CIBIO-InBIO/Universidade de Évora, do CSIC e do Centro de Macroecologia, Evolução e Clima da Universidade de Copenhaga, “o impacto das alterações climáticas na biodiversidade pode ser medido de diversas formas, algumas das quais bastante diferentes das que são tradicionalmente utilizadas. Por exemplo, podemos medir se eventos extremos se poderão agravar ou atenuar, se determinadas condições climáticas estarão mais ou menos disponíveis, e em que medida as condições climáticas poderão estender-se para além das suas áreas de impacto actuais”. A investigadora explica que “quando projectamos essa variedade de medições em cenários futuros, torna-se evidente que a biodiversidade irá experimentar diferentes desafios climáticos em diferentes regiões do planeta. É previsível que o aquecimento extremo e eventos de seca, por exemplo, afectem principalmente os trópicos, causando uma grave ameaça a espécies mais sensíveis. Quando consideramos a extensão das áreas potencialmente afectadas pelas mudanças climáticas, verificamos que esta é maior em regiões de clima frio e polar. Portanto, espécies existentes nessas regiões terão maiores dificuldades em acompanhar os tipos de clima a que estão adaptadas”.

 

Uma cura não serve para todos

De acordo com Carsten Rahbek, co-autor do artigo, director do Centro de Macroecologia, Evolução e Clima da Universidade de Copenhaga e professor do Imperial College de Londres, “estes resultados fornecem uma imagem mais detalhada das implicações das alterações climáticas para a biodiversidade. Embora as alterações climáticas sejam um fenómeno global, expressam-se de diferentes formas, variando de região para região e não há uma solução única, aplicável a todas as áreas. Termos que considerar as consequências de acordo com os principais efeitos regionais. A boa notícia é que quanto melhor compreendermos as implicações das alterações climáticas, mais capazes seremos de desenvolver acções eficazes para preservar a biodiversidade e os ecossistemas”.

 

A complexidade da natureza

“Os cientistas estão longe de ser capazes de prever com precisão os impactos das mudanças ambientais globais sobre a biodiversidade e ecossistemas em todo o mundo. Os efeitos actuais das alterações climáticas na biodiversidade são extremamente difíceis de prever. O nível de complexidade com o qual temos que lidar ao tentar prever os efeitos futuros das mudanças climáticas sobre espécies e ecossistemas é algo sem precedentes nas ciências naturais. Por isso, temos que trabalhar com simplificações que revelam as principais tendências das mudanças que estão a ocorrer no mundo natural”, refere Miguel Araújo.


“Embora as estimativas implementadas neste estudo não representem respostas detalhadas de espécies individuais às alterações climáticas, elas continuam a ser uma importante ferramenta para a avaliação de impactos sobre a biodiversidade”, avança Raquel Garcia. "O número elevado de espécies desconhecidas e não descritas significa que as avaliações feitas com base em dados sobre espécies disponíveis representam uma proporção muito reduzida da biodiversidade existente no planeta. Os inventários mundiais, por exemplo, englobam menos de 20% de todos os insectos existentes, e este é um grupo com influência considerável no funcionamento e serviços dos ecossistemas. Quando cuidadosamente implementadas e, se devidamente associadas a ameaças e oportunidades, as estimativas das alterações climáticas, como as analisadas neste estudo, resultam em avaliações de primeira ordem dos efeitos potenciais das alterações climáticas sobre a biodiversidade como um todo”, conclui a investigadora.

 

Artigo original:
Raquel A. Garcia, Mar Cabeza, Carsten Rahbek, Miguel B. Araújo. Multiple Dimensions of Climate Change and Their Implications for Biodiversity. Science. DOI: 10.1126/science.1247579

 

Contactos:
Miguel Araújo
Tel: (Reino Unido): +44 7714051440
Tel: (Espanha): +34 620806141
Email: mba@uevora.pt

 

Raquel Garcia
Tel (Portugal): +351 96 879 39 39
Tel (Dinamarca): +45 50379663
E-mail: raquel.garcia@mncn.csic.es

 

Figura 1: A biodiversidade enfrenta diversos desafios em regiões diferentes, tais como acontecimentos climáticos extremos, novos climas, ou a redução e a deslocação das condições climáticas às quais as espécies estão adaptadas. Créditos: Christian Ostrosky

 

Figura 2: O aumento da temperatura ao nível dos trópicos dará origem a condições climáticas completamente novas, que actualmente não existem em mais nenhum local da Terra. Créditos: Gary Sauer-Thompson

 

Figura 3: A biodiversidade enfrenta muitos e diversos desafios climáticos em todas as regiões, tais como eventos climáticos extremos, novos climas, e o encolhimento ou deslocação das condições climáticas. Créditos: Miguel Araújo

 

2014-05-02
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