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Competir enquanto se come: o que aprendemos com uma lagartixa

Competir enquanto se come: o que aprendemos com uma lagartixa
Um artigo publicado na revista Behavioral Ecology and Sociobiology por uma equipa internacional, que inclui investigadores do CIBIO-InBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, InBIO Laboratório Associado da Universidade do Porto), revela que espécie invasora de lagartixa presente em Portugal não utiliza a agressividade para competir com as espécies nativas.

As espécies invasoras constituem uma grande preocupação a nível global devido ao elevado impacto ecológico e económico que podem provocar. Estas espécies competem pelos mesmos recursos das espécies nativas, podendo mesmo excluir estas últimas dos seus habitats. Durante a competição, os animais poderão utilizar a agressividade para afastar os seus rivais, impedindo que estes tenham acesso a recursos vitais. Neste caso estamos perante uma competição de interferência. Noutras situações, as espécies não interagem entre si diretamente, mas o consumo de mais recursos por parte de uma pode prejudicar a outra, correspondendo a uma competição de exploração.

A lagartixa-italiana (Podarcis siculus), uma espécie invasora em Portugal, foi introduzida há 20 anos em Lisboa e acredita-se que está a expulsar dos seus habitats a lagartixa-verde (Podarcis virescens), uma espécie nativa que existe apenas na Península Ibérica. No estudo agora publicado, os investigadores descobriram que a lagartixa invasora não utiliza a agressividade quando em contacto com a espécie nativa. Surpreendentemente, as lagartixas invasoras mostravam-se ser bastante amistosas e partilhavam os mesmos locais de abrigo. "O que é realmente interessante é que outros estudos tinham mostrado que a lagartixa-italiana pode ser muito agressiva com lagartos nativos. Mas no nosso estudo quase não encontramos agressividade” refere Isabel Damas Moreira, autora principal do estudo.

Qual seria então a razão do maior sucesso da espécie invasora? Os autores verificaram que a lagartixa-italiana era mais rápida a chegar aos locais de alimentação, ingeria mais alimento e, consequentemente, ganhava mais peso. Estes resultados vêm suportar a hipótese de existência de uma competição de exploração, evidenciando que este tipo de competição pode ter um significativo impacto nas espécies e explicar o desaparecimento das lagartixas nativas nos locais em contacto com a espécie invasora.

Este estudo sugere que a lagartixa-italiana, assim como outras espécies invasoras, podem ser capazes de ajustar a forma como competem. A quantidade de alimento, a disponibilidade de refúgio e até mesmo o comportamento das espécies nativas podem influenciar a estratégia comportamental das espécies invasoras. "Considerando que as lutas podem resultar em ferimentos e, nalguns casos, a morte, pode fazer sentido evitá-las e, em vez disso, delinear uma forma de obter os recursos mais rapidamente”, refere Isabel Damas Moreira.

"Este estudo contribui para um maior conhecimento dos mecanismos competitivos entre as espécies invasoras e nativas, demonstrando a importância dos estudos do comportamento animal para entender melhor o sucesso das espécies invasoras”, acrescenta Isabel Damas Moreira.


Artigo original:
Damas-Moreira, I., Riley, J.L., Carretero, M.A., Harris, D.J., Whiting, M.J. September 2020. Getting ahead: exploitative competition by an invasive lizard. Behavioural Ecology and Sociobiology. DOI: 10.1007/s00265-020-02893-2

Imagens:
Imagem 1 - Um resumo visual dos resultados. A espécie invasora chegava primeiro à comida e comia mais. | Créditos de imagem: Isabel Damas Moreira
Imagem 2 – As duas espécies a repousar em conjunto por cima do refúgio, mostrando a alta tolerância que existia entre as duas espécies. | Créditos de imagem: Isabel Damas Moreira

2020-09-09
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