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Estudo demonstra que a utilização de paisagens “inteligentes” pode ser a solução para o controlo dos incêndios

Estudo demonstra que a utilização de paisagens “inteligentes” pode ser a solução para o controlo dos incêndios
Estudo demonstra que a proteção e o aumento das áreas agrícolas, combinadas com estratégias firesmart poderá contribuir para a mitigação de incêndios florestais e garantir simultaneamente a conservação da biodiversidade e o fornecimento de serviços de sequestro de carbono.

Um estudo recentemente publicado na revista Ecosystem Services, e liderado por investigadores do CIBIOInBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, InBIO Laboratório Associado da Universidade do Porto) e da Universidade de Santiago de Compostela (USC), demonstra como a integração de uma gestão do território destinada a proteger e a promover o aumento das áreas agrícolas com estratégias de "gestão inteligente do fogo” poderão contribuir para a mitigação de incêndios florestais e garantir simultaneamente a conservação da biodiversidade e o fornecimento de serviços de sequestro de carbono.

As tendências crescentes dos incêndios florestais e seus impactos nas paisagens do sul da Europa estão interligadas com os efeitos pronunciados das alterações climáticas e o abandono regional do território. Adicionalmente, as políticas atuais de gestão de incêndios focam-se principalmente na sua supressão imediata e ignoram os problemas de gestão da paisagem, podendo incrementar ainda mais os impactos do fogo ao proporcionar uma transição das paisagens atuais para outras mais inflamáveis e propensas a incêndios. Tendo em conta este contexto, é necessário avaliar outras alternativas de gestão do território que possam contrariar as atuais tendências do impacto do fogo nestas regiões.

As estratégias fire-smart, isto é "gestão inteligente do fogo”, são uma dessas alternativas, pois visam controlar o regime de incêndios através da conversão da vegetação atual para uma menos inflamável de forma a criar ambientes mais resistentes e resilientes ao fogo. Surpreendentemente, a eficiência destas estratégias na mitigação de grandes incêndios florestais, assim como os potenciais benefícios para a conservação da biodiversidade e prestação de serviços dos ecossistemas, permanece praticamente inexplorada.

Este estudo, desenvolvido na Reserva da Biosfera Transfronteiriça Gerês-Xurés, pretendeu explorar estas questões através da simulação da evolução da paisagem de acordo com diferentes estratégias de gestão do território para as próximas décadas (2020-2050), analisando os potenciais impactos no regime do fogo, no sequestro e armazenamento de carbono, e na disponibilidade de habitats para 116 espécies de aves, anfíbios e répteis.

O estudo demonstra que a proteção e o aumento das áreas agrícolas, combinadas com estratégias firesmart (através da conversão de plantações florestais em carvalhais), poderão contribuir para uma redução de 50% das áreas ardidas por grandes incêndios florestais previstas para o período entre 2030 e 2050.

Uma estratégia de gestão fire-smart também contribuiria para um aumento do sequestro de carbono na área de estudo, permitindo um aumento de cerca de 3,5 Tg C entre 2020 e 2050.

Estas políticas integradas também poderão contribuir para um aumento da disponibilidade de habitat para espécies sem-proteção/não-ameaçadas dentro dos limites das áreas protegidas da reserva nos próximos 40 anos (mais de 100 km2 de habitat disponível em relação a 1990), assim como parecem ser os cenários de gestão mais vantajosos para as espécies protegidas/ameaçadas das áreas protegidas, garantindo uma estabilização de habitat disponível durantes as próximas três décadas.

"A implementação de políticas agrícolas que fomentem e protejam as atividades agropastoris locais poderá contrariar os efeitos negativos associados ao abandono rural, podendo reduzir consideravelmente o risco e impacto dos grandes incêndios florestais (em cerca de 50% das áreas ardidas de acordo com o nosso estudo) nas regiões montanhosas de interior da Península Ibérica” salienta João Campos, investigador do CIBIO-InBIO e um dos autores do estudo.

Este estudo foi liderado pela investigadora do CIBIO-InBIO e bombeira voluntária Silvana Pais. O trabalho foi desenvolvido no âmbito do FirESmart (https://firesmartproject.wordpress.com/), um projeto de investigação colaborativo financiado pela FCT (Fundação para a Ciência e a Tecnologia - Portugal) e coordenadao pelo investigador da USC Adrián Regos, que procura soluções baseadas na natureza rentáveis para maximizar os benefícios entre a prevenção de incêndios e os serviços dos ecossistemas. Este trabalho contou ainda com a colaboração de vários investigadores associados a diversos institutos e centros de investigação de Portugal e Espanha (proMetheus, CREAF, Universidade de Santiago de Compostela, CITAB, CIMO e CSIC).


Artigo original:
Pais S, Aquilué N, Campos J, Sil A, Marcos B, Martínez-Freiría F, Domínguez J, Brotons Ll, Honrado J & Regos A (2020). Mountain farmland protection and fire-smart management jointly reduce fire hazard and enhance biodiversity and carbon sequestration. Ecosystem Services. 44: 101143. DOI: 10.1016/j.ecoser.2020.101143 

Imagens:
Imagem 1 - Típicas paisagens de montanha na Reserva da Biosfera Gerês-Xurés | Créditos de imagem: Adrián Regos
Imagem 2 - Os incêndios e seus impactos consequentes têm vindo a aumentar ao longo das últimas décadas, resultado das alterações climáticas e do abandono progressivo das zonas rurais | Créditos de imagem: Silvana Pais
Imagem 3 - Espigueiros na aldeia de Lindoso. Estas estruturas usadas para o armazenamento, proteção e secagem do milho, são parte integrante do património cultural do norte de Portugal e Espanha, representando um símbolo das atividades agrícolas tradicionais que têm sido gradualmente perdidas devido ao abandono rural| Créditos de imagem: Adrián Regos
Imagem 4 - Paisagem de montanha previamente afetada por um incêndio florestal da Reserva da Biosfera Gerês-Xurés | Créditos de imagem: Adrián Regos

2020-08-19
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