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Novo estudo esclarece por que predadores marinhos mergulham no mar profundo

Novo estudo esclarece por que predadores marinhos mergulham no mar profundo
Dados de mais de 300 transmissores de satélite colocados em grandes predadores marinhos, juntamente com sonares de bordo, apontam para a importância ecológica da zona crepuscular (twilight) do oceano.

Um novo estudo, que será hoje publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, mostra que grandes peixes predadores como tubarões, atuns e espadartes fazem um número surpreendente de mergulhos ao oceano profundo – particularmente à zona mesopelágica, que se encontra entre 200 e os 1000 metros abaixo da superfície. Esta zona, também denominada de zona crepuscular do oceano, tem, de acordo com o estudo, sido negligenciada como habitat crítico para grandes peixes pelágicos. 

Liderado por Camrin Braun, cientista do Woods Hole Oceanographic Institution (WHOI), o estudo incorporou uma quantidade surpreendente de dados de vários parceiros científicos, entre os quais investigadores do BIOPOLIS-CIBIO (Nuno Queiroz, Gonzalo Mucientes e Miguel Furtado). No estudo foram utilizados dados de transmissores de satélite, sonares de bordo, satélites e modelos oceanográficos para quantificar a importância ecológica dos mergulhos profundos. 

"Todos estes animais que tipicamente consideramos residentes na superfície do oceano, passaram muito mais tempo do que se pensava anteriormente nas profundezas do oceano”, refere Camrin Braun.

No total, foram analisados dados de 344 transmissores eletrónicos, num total de 46,659 dias, de 12 espécies no Atlântico Norte, incluindo tubarões azuis, brancos, tigre, tubarões-baleia, atuns, espadartes, entre outras.

"A grande novidade do estudo, é que o comportamento destes peixes for diretamente comparado com dados de sonar que mostravam os movimentos diários da deep scaterring layer (DSL), uma camada no oceano onde um grande número de pequenos peixes e outros organismos marinhos estão densamente agregados” refere Nuno Queiroz, investigador do CIBIO. Durante o dia, os animais do DSL habitam a zona mesopelágica, mas quando o sol se põe, muitos destes indivíduos nadam para perto da superfície para se alimentar; ao nascer do sol, voltam a mergulhar de volta à zona mesopelágica. Esse ritmo diário é chamado de migração vertical diária (diel vertical migration), e é estudado há décadas, incluindo no CIBIO. 

"O incrível é que, o comportamento de muitos dos predadores analisados, alinhou-se perfeitamente com o movimento diário da DSL, presumivelmente para se alimentarem” adiantou Nuno Queiroz. "Surpreendentemente, em alguns casos, os sensores de luz dos transmissores conseguiram mesmo detetar a bioluminescência, típica de muitos organismos da DSL”.

Mas nem todos os predadores seguiram fielmente os movimentos da DSL. O espadarte por exemplo, apesar de realizar migrações verticais diárias, em vez de mergulhar até aos 450 m (onde estava a DSL), continuou a mergulhar até aos 1,000 – 1,500 m. "Isto significa que os mergulhos profundos possam ter outras funções que não são ainda totalmente compreendidas” indica Camrin Braun. 

Várias espécies alinharam-se perfeitamente com as expectativas de que mergulham para se alimentar, mas há comportamentos que não são apenas para alimentação. O peixe-espada, por exemplo, segue o padrão Diel Vertical Migration como um relógio. Mas existem alguns "desvios realmente surpreendentes desse comportamento”, explica Camrin Braun – "como, em vez de mergulhar até 1.500 pés, um peixe-espada vai até 3.000 ou 6.000 pés, muito mais fundo do que esperaríamos para esse comportamento alimentar”.

O estudo mostra que a zona mesopelágica é claramente importante para muitos mega-predadores, sublinhando que é do interesse público manter este ecossistema intacto. A sobreposição entre a distribuição dos predadores (alguns com interesse comercial) com a atividade pesqueira, o esperado impacto das alterações climáticas e a potencial extração de biomassa mesopelágica” podem colocar este ecossistema crítico em perigo. "Se começarmos a explorar estes ecossistemas mesopelágicos antes de sabermos como realmente funcionam, existe um risco muito grande de causar danos que não são facilmente reversíveis,” salienta Nuno Queiroz.


Artigo original: 
Camrin D. Brauna, Alice Della Penna, Martin C. Arosteguia, Pedro Afonso, Michael L. Berumen, Barbara Block, Craig Brown, Jorge Fontes, Miguel Furtado, Austin J. Gallagher, Peter Gaube, Walt Golet, Jeff Kneebone, Bruno C. L. Macena, Gonzalo Mucientes, Eric S. Orbesen, Nuno Queiroz, Brendan D. Shea, Jason Schratwieser, David W. Sims, Gregory B. Skomal, Derke Snodgrass, and Simon R. Thorrold (2023). Linking vertical movements of large pelagic predators with distribution patterns of biomass in the open ocean. Proceedings of the National Academy of Sciences.
DOI: 10.1073/pnas.2306357120

Imagem:
Imagem 1. Tubarão-anequim (Isurus oxyrinchus)


2023-11-06
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