Cookie Policy

This site uses cookies. When browsing the site, you are consenting its use. Learn more

I understood

Investigadores alertam para o declínio das aves agrícolas em Portugal e apelam a uma ação imediata

Investigadores alertam para o declínio das aves agrícolas em Portugal e apelam a uma ação imediata
Investigadores do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (BIOPOLIS-CIBIO) da Universidade do Porto, publicam carta na prestigiada revista Science, alertando para o preocupante declínio das aves agrícolas em Portugal e apelam para a reformulação de medidas agroambientais.

Há vários anos que cientistas e ONGAs têm alertado para o declínio acentuado de espécies de aves associadas a meios agrícolas no território Nacional. A abetarda (Otis tarda), o sisão (Tetrax tetrax) e o tartaranhão-caçador (Circus pygargus), três espécies classificadas como prioritárias para a conservação pela Diretiva Aves da União Europeia, declinaram entre 50 a 80% nos últimos 10 anos e cerca de um terço de aves agrícolas comuns também estão em declínio.

"Nos últimos 8 anos estivemos envolvidos na coordenação de censos nacionais de espécies prioritárias e verificámos declínios maiores do que estimado anteriormente!” – refere João Paulo Silva primeiro autor desta carta. 

A carta publicada agora na Science alerta para o facto da redução das populações destas aves se prender sobretudo com uma conversão para cultivos permanentes (como olivais e amendoais) decorrentes da expansão dos perímetros de rega e ao aumento quase exponencial da produção de gado, principalmente bovina, dependentes de pastagens permanentes e de culturas forrageiras. 
Pode-se dizer que a transição começou em 2003 quando Portugal parou de subsidiar a produção de cereal, mantendo, no entanto, os subsídios para a produção pecuária, aquando a Reforma da Política Agrícola Comum. 

"Para além de perdas diretas de habitat aberto das quais muitas destas espécies dependem, esta mudança resultou no abandono da prática do cultivo extensivo e rotativo de cereais, uma matriz de habitats composta por cereais, leguminosas e pousios”, explica Ana Teresa Marques. "Esta redução da diversidade de habitats tem reduzido a disponibilidade de vegetação com estrutura adequada para reprodução e refúgio contra predadores e, possivelmente, limitado o alimento (sobretudo plantas e invertebrados) de muitas aves” acrescenta a investigadora.

O investigador João Gameiro destaca ainda "Além disso, para satisfazer os requisitos alimentares de um gado cada vez mais numeroso, tem ocorrido uma expansão de parcelas destinadas a fenos ou forragens, que são cortadas muito mais cedo que as searas para grão, resultando na destruição de ninhos, e até na morte de crias e aves adultas”.

As medidas agroambientais, de cariz voluntário, criadas para promover o habitat de aves agrícolas não conseguem competir financeiramente com as práticas agrícolas atuais e têm tido pouca adesão por parte dos agricultores.

"O Estado Português está em incumprimento com a Diretiva Aves da União Europeia, ao não ser capaz de suster um estado de conservação favorável das espécies prioritárias como a abetarda, o sisão ou o tartaranhão-caçador” refere Francesco Valério, outro dos autores desta carta. 

Os investigadores apelam a uma reformulação das medidas agroambientais para torná-las atrativas para os agricultores, algo que só pode ser alcançado através de uma colaboração próxima entre o Ministério do Ambiente, o Ministério da Agricultura, e os agricultores. João Paulo Silva refere que "estas novas medidas devem ser sujeitas a uma monitorização e avaliação regulares, ao contrário do que foi feito até agora, para determinar o impacto, a adesão dos agricultores, e possibilitar ajustes imediatos. Apenas um esforço conjunto por parte das entidades responsáveis pela agricultura e conservação pode contribuir para reverter o declínio vertiginoso das aves agrícolas em Portugal”.


Artigo:
João P. Silva, João Gameiro, Francesco Valerio, Ana T. Marques (2024). Portugal’s farmland bird crisis requires action. Science.

Imagens:
Imagem 1. Abetarda macho | Créditos de imagem: Luís Venâncio
Imagem 2. Sisão macho | Créditos de imagem: Luís Venâncio

2024-01-12
Share this: