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Serão os dentes das cobras mais importantes que o seu veneno?

Serão os dentes das cobras mais importantes que o seu veneno?
Num artigo publicado hoje na revista Journal of Experimental Biology é revelado de que as cobras, ao contrário do que se pensava, não aperfeiçoaram o veneno para se defenderem dos animais que as atacam. A descoberta foi feita por uma equipa internacional liderada por investigadores do CIBIO-InBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, InBIO Laboratório Associado da Universidade do Porto).

Muitas cobras injetam um veneno letal dentro das suas presas através de dentes especializados. No entanto, algumas podem usar o veneno como forma de defesa ao cuspi-lo para os olhos dos seus atacantes, atingindo, por vezes, distâncias superiores a 3 metros. Acreditava-se que este comportamento único tenha levado estas espécies a desenvolver um veneno que seria mais adequado para ser cuspido.

Para compreender o fluxo de veneno através dos dentes, os investigadores compararam as propriedades de fluxo (viscosidade) do veneno de 13 espécies de cobras cuspidoras e não cuspidoras de todo o mundo. Para sua surpresa, descobriram que embora alguns dentes tenham evoluído para permitir que o veneno os percorra mais rapidamente, o veneno em si não era especializado para o ato de cuspir.

O estudo permitiu ainda descobrir que o veneno se comporta como um fluido normal, ou newtoniano, apresentando a mesma viscosidade independentemente da velocidade a que flui. Estudos anteriores de menor escala tinham relatado que quanto mais rápido o veneno de cobra flui, menos viscoso ele se torna, pois tratar-se-ia de um fluido pseudoplástico não-newtoniano.

O mecanismo utilizado pelas espécies cuspidoras parece estar ligado a adaptações morfológicas específicas e exclusivas dos seus dentes. Os autores sugerem também que, atendendo às propriedades de fluxo do veneno, pode ser mais importante as cobras manterem a consistência no mecanismo de cuspir utilizando diferentes velocidades para atingir com maior eficácia o seu alvo.


Artigo original: 
Ignazio Avella, Edgar Barajas-Ledesma, Nicholas R. Casewell, Robert A. Harrison, Paul D. Rowley, Edouard Crittenden, Wolfgang Wüster, Riccardo Castiglia, Chris Holland, and Arie van der Meijden (2021). Unexpected lack of specialisation in the flow properties of spitting cobra venom. Journal of Experimental Biology. DOI: 10.1242/jeb.229229

Imagens:
Imagem 1. e 2. Exemplos de uma espécie de cobra-cuspideira (Naja mossambica) | Créditos de imagem: Wolfgang Wüster

2021-04-07
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