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Tubarões sob pressão: a desoxigenação do oceano profundo empurra tubarões para a superfície

Tubarões sob pressão: a desoxigenação do oceano profundo empurra tubarões para a superfície
Num estudo publicado na revista eLife, uma equipa maioritariamente composta por investigadores do CIBIO-InBIO, Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, InBIO Laboratório Associado da Universidade do Porto descobriu que a desoxigenação da água causada pelas alterações climáticas leva o tubarão azul a utilizar águas mais superficiais, tornando-o mais vulnerável à pesca.

As alterações climáticas estão a causar uma redução do oxigénio dissolvido na água, um processo conhecido como desoxigenação dos oceanos. Este processo tem provocado a expansão tanto horizontal como vertical de zonas mais profundas que permanecem com baixa concentração de oxigénio, conhecidas por zonas de oxigénio mínimo (ZOM), podendo alterar a distribuição e colocar mesmo em perigo espécies de grande porte que necessitam de elevadas concentrações de oxigénio.

Através deste estudo, foi possível demonstrar que a expansão da zona de oxigénio mínimo localizada no Nordeste Atlântico (próxima de Cabo Verde) está a comprimir o habitat do tubarão azul. Ao evitarem profundidades com menor concentração de oxigénio, os tubarões permanecem mais à superfície, aumentando assim a probabilidade de serem capturados pela atividade pesqueira.

Os cientistas marcaram tubarões azuis com transmissores de satélite para registar as profundidades máximas de mergulho dentro das zonas de oxigénio mínimo e em áreas circundantes do Oceano Atlântico Norte, o que permitiu seguir os movimentos horizontais e o comportamento de mergulho do tubarão azul durante vários meses.

Paralelamente, foram seguidos, por GPS, navios de palangre de superfície, permitindo avaliar a maior vulnerabilidade dos tubarões à pesca. "Descobrimos que a ZOM ocidental Africana é uma área de pesca intensiva de palangre, com maiores capturas de tubarão azul, muito provavelmente devido à compressão de habitat em águas superficiais”, refere Marisa Vedor, primeira autora do artigo.

Nuno Queiroz, que co-liderou o estudo, sublinha que a captura potencialmente mais fácil desta espécie deverá aumentar no futuro se continuarmos a assistir a uma expansão destas zonas com baixa concentração de oxigénio.

O tubarão azul é uma espécie comercialmente importante devido sobretudo às suas barbatanas. Esta espécie perfaz cerca de 90% do total das capturas reportadas no Atlântico, e, no entanto, está classificada como "Quase Ameaçada” pela IUCN, existindo poucas restrições à sua captura a nível mundial.

 "Estes resultados defendem a necessidade de medidas de gestão para mitigar os efeitos da desoxigenação dos oceanos nas capturas de tubarões, que são aparentemente substanciais acima de águas profundas pouco oxigenadas” alerta Prof. David Sims, coordenador principal do Projeto Global Shark Movement e que co-liderou também este estudo. Acrescenta ainda que "Áreas marinhas protegidas circundantes de zonas de oxigénio mínimo podem ser necessárias para garantir a proteção de tubarões no futuro com a contínua desoxigenação dos oceanos”.

Desde 2005 que os tubarões são estudados pelo CIBIO-InBIO pelo investigador Nuno Queiroz. O presente trabalho será integrado no projeto OCEAN DEOXYFISH, financiado pela European Research Council (ERC), que irá continuar a providenciar uma visão crucial sobre os efeitos da desoxigenação dos oceanos em predadores de topo como os tubarões e atuns.


Artigo original: 
Marisa Vedor, Nuno Queiroz, Gonzalo Mucientes, Ana Couto, Ivo da Costa, António dos Santos, Frederic Vandeperre, Jorge Fontes, Pedro Afonso, Rui Rosa, Nicolas E Humphries, David W Sims. Climate-driven deoxygenation elevates fishing vulnerability for the ocean's widest ranging shark. DOI: 10.7554/eLife.62508

Imagens:
Imagem 1. Tubarão azul, classificado pela IUCN como Quase Ameaçado a nível global, com poucas restrições de captura em qualquer parte do mundo | Créditos de imagem: Jeremy Stafford-Deitsch
Imagem 2. Tubarões azuis capturados por palangre no Atlântico | Créditos de imagem: CIBIO-InBIO e Marine Biological Association

2021-01-22
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