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Todas as metas para a conservação da biodiversidade falhadas. E agora?

Todas as metas para a conservação da biodiversidade falhadas. E agora?
Uma equipa internacional, que inclui o investigador do CIBIO-InBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, InBIO Laboratório Associado da Universidade do Porto) Henrique Miguel Pereira, tentou dar resposta a esta questão num estudo publicado na revista Science, advogando a necessidade urgente de estabelecer várias metas ambiciosas, coordenadas e integradas.

A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) anunciou recentemente que nenhuma das 20 metas de Aichi para a biodiversidade que estabeleceu em 2010 foi alcançada e que apenas seis foram parcialmente alcançadas. Os políticos e cientistas estão agora a preparar a próxima geração de metas para a biodiversidade para 2030 e 2050 a serem consagradas pela 15ª Convenção das Partes em 2021. Uma grande equipa internacional, que inclui o investigador do CIBIO-InBIO Henrique Miguel Pereira, traçou a base científica para redesenhar o novo conjunto de metas para a biodiversidade num estudo publicado na prestigiada revista Science.

Essa equipa, liderado por cientistas da Comissão da Terra e composta por mais de 60 especialistas em biodiversidade de 26 países, defende a necessidade de uma visão integrada composta por múltiplas metas ambiciosas e coordenadas para enfrentar o alarmante declínio da biodiversidade: "uma meta só não conseguirá capturar a ampla gama de características que precisam ser sustentadas, dos genes aos ecossistemas”. Os especialistas avaliaram essas metas preliminares, verificando se estas se reforçam ou enfraquecem mutuamente, questionaram as evidências científicas que as sustentam e se um nível da biodiversidade, por exemplo a diversidade genética, poderia servir para inferir os outros níveis de biodiversidade. O resultado é uma avaliação independente e fundamentada cientificamente. "Esperamos que seja uma ferramenta útil nas negociações da CDB sobre uma nova estratégia para a natureza e as pessoas”, referiu a Professora Sandra Díaz da Universidade Nacional de Córdoba, Argentina, autora principal do artigo.

Para enfrentar a perda da biodiversidade aos diferentes níveis, dos ecossistemas aos genes, e as contribuições da mesma para as pessoas, diferentes metas devem ser propostas de acordo com o grau de ambição dos governos, isto é, se pretendem estabilizar, reduzir ou mesmo travar a taxa de perda de biodiversidade. Para cada nível de ambição, distintas metas foram traçadas. O artigo fornece a base científica para distinguir entre ambições baixas, médias e altas. Metas ambiciosas deverão alcançar o balanço neutro entre a perda e a conservação/restaurações dirigidas aos ecossistemas, tanto em áreas naturais quanto geridas, a perda mínima de espécies e populações, a conservação de 90% da diversidade genética e assegurar uma ampla gama de contribuições da biodiversidade para as pessoas.

De acordo com estes especialistas, três pontos são fundamentais a ter em consideração pelas nações ao definir as novas metas de biodiversidade: em primeiro lugar, uma única meta para a biodiversidade, baseado em um único nível, por exemplo, focado apenas na extinção de espécies é arriscado. Múltiplas metas são necessários para os ecossistemas, espécies, genes e para a contribuições da biodiversidade para as pessoas para garantir que todos os níveis são considerados; em segundo lugar, como estes níveis estão interligados, estas metas devem ser definidas e alcançadas de forma integrada; por último, apenas o mais alto nível de ambição para a definição de cada meta e a implementação de todas as metas de forma integrada dará uma oportunidade realista de travar a tendência crescente de declínio da biodiversidade até 2050.

"Construir uma rede de segurança suficientemente ambiciosa para a biodiversidade será um grande desafio global”, disse Díaz, "mas, a menos que o façamos, deixaremos enormes problemas para todas as gerações vindouras”. "A perda da biodiversidade é um desafio ainda mais complexo do que as mudanças climáticas”, acrescentou Henrique Miguel Pereira.

Artigo original: 
Díaz, Sandra, et al. (2020) Set ambitious goals for biodiversity and sustainability. Science 370.6515: 411–413. DOI: 370/6515/411


Imagens:
Imagem 1 - Cabra-montês (Capra pyrenaica)| Créditos de imagem: Henrique Miguel Pereira
Imagem 2 - Sobreiro (Quercus suber) | Créditos de imagem: Henrique Miguel Pereira
2020-10-27
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