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Novo estudo ajuda a compreender o dicromatismo sexual em aves

Novo estudo ajuda a compreender o dicromatismo sexual em aves
Uma equipa de investigadores do CIBIO-InBIO/BIOPOLIS (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, InBIO Laboratório Associado da Universidade do Porto) publicou hoje, na prestigiada revista Proceedings of the Royal Society B, um estudo que revela, pela primeira vez, que o investimento a nível fisiológico que as fêmeas de aves realizam durante a reprodução pode ser responsável pela sua menor exuberância.

Desde Darwin, a teoria da seleção sexual tem-se preocupado em explicar como e porquê os machos têm colorações exuberantes e outros ornamentos tão conspícuos, enquanto as fêmeas não os têm ou têm-nos menos elaborados. Tradicionalmente as explicações focam-se na função desses ornamentos nos próprios machos. No entanto, as fêmeas de muitas espécies podem ser tão coloridas como os seus congéneres masculinos, e os mecanismos subjacentes à elaboração da cor em machos podem não ser os mesmos para as fêmeas.

Através deste estudo foi possível demonstrar que através da manipulação da quantidade de estradiol, a principal hormona esteroide associada à fisiologia reprodutiva feminina, é possível modular a cor do bico da ave bico-de-lacre comum (Estrilda astrild).

Em experiências anteriores realizadas em cativeiro, a mesma equipa de investigação tinha surpreendentemente constatado que as fêmeas desta espécie podiam ficar com os bicos mais vermelhos, semelhantes aos dos machos. A coloração era também sensível às condições ambientais e concentração de suplementos, mas descartou-se a hipótese destas alterações estarem relacionadas com sinais de agressividade e hierarquias sociais.

"Estes resultados vêm confirmar a ideia central da hipótese levantada, de que a ativação fisiológica associada à reprodução nas fêmeas implica um menor investimento no processo de ornamentação” refere Sandra Trigo, investigadora do BIOPOLIS-CIBIO e principal responsável pelo estudo. 

"As fêmeas têm um maior investimento fisiológico durante a época reprodutiva, e por isso precisam de proteger a sua condição corporal, evoluíram no sentido de investir recursos e energia em ornamentação quando as condições ambientais são mais propícias” acrescenta a investigadora.

No estudo, foi testado se a hormona esteroide sexual "feminina" (estradiol), envolvida na fisiologia reprodutiva, modulava o investimento na ornamentação do bico vermelho. Para isso, foram aumentados experimentalmente os níveis de estradiol em fêmeas de bico de lacre, procedendo-se à monitorização da cor dos seus bicos e comparação com fêmeas controlo e machos não manipulados.

Desta forma foi evidenciado que nesta espécie os sexos não diferem na capacidade de expressão de ornamentos, mas apenas quando os expressam. 

Esta é uma forma nova de olhar para diferenças entre os sexos, particularmente no que diz respeito aos processos de ornamentação. Tradicionalmente as diferenças entre os sexos são explicadas apenas baseadas nas vantagens para os machos em termos sexuais ou sociais. Estes resultados indicam que ambos os sexos poderão sair beneficiados através da expressão deste tipo de sinais sociais, ambos os podem expressar de forma semelhante, ainda que as fêmeas o possam fazer em momentos diferentes. Curiosamente, esta perspetiva encontra paralelismo com os humanos, onde a reprodução implica um maior investimento por parte das mulheres, aos níveis biológico e social.

Artigo original: 
Romero-Diaz Cristina, Silva Paulo A., Soares Marta C., Cardoso Gonçalo C. and Trigo Sandra (2022). Oestradiol reduces female bill colour in a mutually ornamented bird. Proc. R. Soc. B. 289: 20221677. 20221677.

Imagens:
Imagem 1. Macho de Bico-de-lacre comum (Estrilda astrild)| Créditos de imagem: Gonçalo C. Cardoso

2022-10-12
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