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Navios pesqueiros seguem ‘hotspots’ de tubarões

Navios pesqueiros seguem ‘hotspots’ de tubarões

O estudo publicado recentemente na prestigiada revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences USA a equipa, que inclui os investigadores do CIBIO-InBIO, Nuno Queiroz, Gonzalo MucientesFernando P. Lima, Lara Sousa e Rui Seabra, chama a atenção para a criação urgente de quotas ou imposição de limites de pesca a fim de proteger os tubarões, atualmente recursos de extrema importância a nível mundial.

 

O declínio da população de tubarões a nível mundial

Por ano, estima-se que cerca de 10 milhões de tubarões são capturados. Apesar das capturas terem diminuído significativamente para outras espécies, a regulamentação da pesca de tubarões permanece escassa. Em larga medida, esta situação, bem como a eventual falha dos esforços de conservação destas espécies, decorrem da falta de informação sobre os locais onde a sobreposição entre os tubarões e os navios de pesca é maior.

 

Monitorizar o Atlântico Norte em busca da sobreposição entre a actividade pesqueira e as áreas de concentração de tubarões
Com o objectivo de quantificar a sobreposição geográfica e temporal entre zonas de actividade de tubarões (‘hotspots’) e de pesca comercial, a equipa de investigação acompanhou por satélite mais de 100 tubarões de seis espécies diferentes no Atlântico Norte, uma região conhecida pela intensa actividade pesqueira. Paralelamente, foram também acompanhadas 186 barcos das frotas portuguesa e espanhola, com recurso a tecnologia GPS.
De acordo com o Professor David Sims, da Marine Biological Association, em Plymouth, Reino Unido e coordenador do estudo: há muitos estudos em que se tem seguido por satélite tubarões e há também muitos estudos que têm acompanhado frotas pesqueiras, mas a monitorização concomitante de tubarões e frotas de pesca está ainda inexplorada, apesar da relevância deste tipo de informação para a regulamentação da pesca de tubarões”.

 

Uma descoberta problemática: pesca intensa nos ‘hotspots’ de tubarões
Através dos registos por satélite da localização de tubarões e de imagens de detecção remota de variáveis ambientais, a equipa verificou que os animais tendem a concentrar-se em zonas oceânicas caracterizadas por gradientes térmicos (frentes) de elevada produtividade.
Talvez sem motivo para surpresa, os investigadores concluíram que também as frotas pesqueiras se concentram nos mesmos locais. No entanto, o grau de sobreposição entre ambos é surpreendente. Para as duas espécies de tubarões mais capturadas, azul e anequim, a sobreposição espacial com a frota pesqueira é de cerca de 80%, sendo que alguns dos tubarões permanem em zonas de pesca mais de 60% do seu tempo.
Apesar de suspeitarmos que a sobreposição de actividade poderia ser significativa, não fazíamos ideia que pudesse ser assim tão elevada. A esta escala, a sobreposição torna os tubarões mais susceptíveis à captura, o que terá consequências imensuráveis para as suas populações, explica o Dr. Nuno Queiroz, investigador do CIBIO-InBIO, Universidade do Porto, primeiro autor do estudo.
A equipa observou que as áreas de maior sobreposição incluem a corrente do golfo, a zona de convergência entre a corrente Norte-Atlântica/Corrente Labrador, assim como outras regiões da dorsal Atlântica a sudoeste dos Açores.
Adicionalmente, observaram também que a variacão anual das zonas de sobreposição é bastante reduzida.
Estes registos chamam a atenção para a eficiência com que as frotas pesqueiras identificam as zonas preferenciais de actividade dos tubarões ao longo do ano. Face à intensa actividade pesqueira que tem vindo a decorrer nos últimos 50 anos, as espécies mais ameaçadas de tubarões que habitam no Atlântico Norte têm cada vez menos sítios onde se refugiar, afirma Sims.

 

O caminho a seguir: como contrariar os efeitos da sobrepesca nas populações de tubarões?
Tendo por base os dados recolhidos, não será difícil perceber quão urgente é a delineação de medidas de conservação eficazes que visem diminuir o impacto da intensa actividade pesqueira nas zonas ‘hotspot’ de actividade de tubarões. Entre as potenciais soluções para a protecção destes animais, que assumem actualmente um papel importante para as frotas pesqueiras mundiais, a equipa de investigação envolvida neste estudo sugere a introdução de quotas de pesca, assim como a definição de directrizes relativas do tamanho limite dos animais capturados.

 

Artigo Original:
Queiroz N, Humphries NE, Mucientes G, Hammerschlag N, Lima FP, Scales KL, Miller PI, Sousa LL, Seabra R, Sim DW (2016) Ocean-wide tracking of pelagic sharks reveals extent of overlap with longline fishing hotspots. Proceedings of the National Academy of Sciences. DOI: 10.1073/pnas.1510090113.

 

Sobre os autores:
Nuno C. Queiroz, Marine Biological Association of the United Kingdom, Plymouth, Reino Unido e CIBIO – Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursso Genéticos/InBIO Laboratório Associado, Universidade do Porto, Vairão, Portugal


Nicolas E. Humphries, Marine Biological Association of the United Kingdom, Plymouth; Reino Unido


Gonzalo Mucientes, CIBIO – Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursso Genéticos/InBIO Laboratório Associado, Universidade do Porto, Vairão, Portugal e Centro Tecnológico del Mar, Vigo, Espanha

 

Neil Hammerschlag, Rosenstiel School of Marine and Atmospheric Sciences, University of Miami, Miami, EUA


Fernando P. Lima, CIBIO – Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursso Genéticos/InBIO Laboratório Associado, Universidade do Porto, Vairão, Portugal

 

Kylie L. Scales, Plymouth Marine Laboratory, Plymouth, Reino Unido, Institute of Marine Sciences, University of California, Santa Cruz, EUA e Environmental Research Division, Southwest Fisheries Science Center, National Oceanic and Atmospheric Administration, Monterey, CA, EUA

 

Peter I Miller, Institute of Marine Sciences, University of California, Santa Cruz, EUA

 

Lara L. Sousa, Marine Biological Association of the United Kingdom, Plymouth, Reino Unido, CIBIO – Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursso Genéticos/InBIO Laboratório Associado, Universidade do Porto, Vairão, Portugal e Ocean and Earth Science, National Oceanography Centre Southampton, Waterfront Campus, University of Southampton, Reino Unido

 

Rui Seabra, CIBIO – Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursso Genéticos/InBIO Laboratório Associado, Universidade do Porto, Vairão, Portugal e Departamento de Biologia, Faculdade de Ciências, Universidade do Porto, Portugal

 

David W. Sims, Marine Biological Association of the United Kingdom, Plymouth, Reino Unido, Ocean, Earth Science, National Oceanography Centre Southampton, Waterfront Campus, University of Southampton, Reino Unido e Centre for Biological Sciences, Highfield Campus, University of Southampton, Southampton, Reino Unido

 

Imagens

 

Imagem 1. Tubarão Azul Prionace glauca | Créditos: Cortesia de Joe Romeiro, 333 Productions
Imagem 2. Tubarão Azul Prionace glauca | Créditos: Cortesia de Joe Romeiro, 333 Productions
Imagem 3. Tubarão Shortfin mako Isurus oxyrinchus | Créditos: Cortesia de Bill Fisher, 333 Productions
Imagem 4. Tubarão Azul Prionace glauca | Créditos: Cortesia de Neil Hammerschlag, SharkTagging.com
(Imagens 1-4. Em mais de 80% das observações, verificou-se uma sobreposição entre as áreas de distribuição dos tubarões azuis e anequim monitorizados no presente estudo e zonas de pesca ao longo de 100km, cada uma com mais de 1200 anzóis de pesca.)

Imagens 5-6. Tubarão Azul Prionace glauca em zona de pesca comercial do Atlântico-Norte | Créditos: Gonzalo Mucientes, CIBIO-InBIO
(Imagens 5-6. Milhões de tubarões azuis são capturados anualmente por frotas pesqueiras comerciais. No entanto, este tipo de captura permanece por regulamentar.)

 

2016-01-26
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