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Morcegos exploram o relevo para voar mais rápido e percorrer longas distâncias

Morcegos exploram o relevo para voar mais rápido e percorrer longas distâncias
Num estudo publicado na prestigiada revista Current Biology, uma equipa internacional de investigadores, da qual fazem parte vários investigadores do CIBIO-InBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, InBIO Laboratório Associado da Universidade do Porto), descobre que os morcegos conseguem percorrer longas distâncias e ascender a grandes altitudes durante o período noturno através de um processo semelhante ao utilizado pelas aves.

Os morcegos são os únicos mamíferos com voo ativo, e podem deslocar-se centenas de quilómetros numa única noite, ou ascender a muitos metros de altitude, mas a forma como o conseguem permanecia ainda um mistério.
 
O estudo agora publicado foi desenvolvido em Portugal e permitiu descobrir que os morcegos utilizam a deslocação vertical de massas de ar, que ocorrem quando o vento cruza obstáculos, como montanhas e outras elevações, para ascenderem a altitudes próximas dos 2000m e alcançarem velocidades superiores a 135km/h sem grande custo energético. 

"Os morcegos são capazes de ascender a grandes altitudes desconhecia-se, no entanto, como o poderiam fazer sem recorrer a correntes térmicas, um fenómeno atmosférico utilizado pelas aves durante a ascensão, mas indisponível para os morcegos no período noturno” refere Francisco Amorim, do CIBIO-InBIO.

Com recurso a pequenos, mas extremamente poderosos, dispositivos de GPS, os investigadores conseguiram seguir as rotas de voo da espécie Morcego-rabudo, permitindo revelar padrões de voo surpreendentes para um mamífero tão pequeno (com aproximadamente 30g). 

A análise dos dados de GPS revelou que os morcegos seguem linhas de cumeada e montanhas, mantendo uma altitude acima do solo aproximadamente constante, disparando, ocasionalmente, para altas altitudes para descerem novamente após poucos minutos – um comportamento que os investigadores apelidam de "montanha-russa”. 

 "O Morcego-rabudo teve que encontrar as suas estratégias para minimizar a energia gasta em cada noite em busca de alimento. Ascender a 1600 metros de altitude [acima do solo] requer imensa energia, e estes morcegos encontraram uma forma de tirar partido de outras correntes de ar verticais.” afirma Teague O’Mara, primeiro autor do estudo e investigadora da Southeastern Louisiana University e do Max Planck Institute of Animal Behavior.

Os dados de GPS revelaram que os animais percorrem também grandes distâncias que chegaram aos 184km numa única noite, entre Vila Real, Alfândega da Fé e o limite com a fronteira Espanhola, ao longo do vale do rio Douro.

Uma dúvida que ainda persiste é a forma como os animais encontram os locais com estas correntes de ar verticais. É colocada a hipótese que existe o reconhecimento de estruturas da paisagem favoráveis, como declives acentuados, ou poderá haver mesmo algum processo de aprendizagem que conduzam os morcegos à procura ativa destes locais.

Os investigadores destacam que estes resultados são ainda um vislumbre inicial "não sabemos porque razão voam tão alto nem como as suas asas, flexíveis e cobertas por uma fina membrana, suportam estas velocidades”, adiantando que abrem uma porta para uma nova e excitante linha de investigação. No futuro os investigadores pretendem utilizar acelerómetros e detetores de ultrassons para compreender o que leva estes animais a voar tão alto, bem como testar aspetos relacionados com a fisiologia e cinemática da espécie em túneis de voo.


Artigo original: 
M. Teague O’Mara, Francisco Amorim, Martina Scacco, Gary F. McCracken, Vanessa Mata, Ricardo Tomé, Sharon Swartz, Martin Wikelski, Pedro Beja, Hugo Rebelo, Dina K.N. Dechmann. Bats use topography and nocturnal updrafts to fly high and fast.

Imagens:
Imagem 1. Morcego-rabudo em voo | Créditos de imagem: Adrià López-Baucells
Imagem 2. Pormenor de Morcego-rabudo | Créditos de imagem: Adrià López-Baucells
Imagem 3. Habitat típico de Morcego-rabudo no Nordeste Transmontano | Créditos de imagem: Teague O’Mara
Imagem 4. Investigadores do CIBIO a processar morcegos para recolha de biometrias e amostras biológicas | Créditos de imagem: Teague O’Mara

2021-02-08
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