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IDENTIFICADAS ÁREAS ONDE A EVOLUÇÃO PODERÁ SALVAR ANIMAIS AMEAÇADOS

IDENTIFICADAS ÁREAS ONDE A EVOLUÇÃO PODERÁ SALVAR ANIMAIS AMEAÇADOS

Num artigo publicado hoje pela prestigiada revista Science, uma equipa internacional, que inclui os investigadores do CIBIO-InBIO e Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, Paulo Célio Alves e José Melo-Ferreira, identificou áreas onde diferentes espécies, que mudam de cor durante o inverno, apresentam um maior potencial de se adaptarem às alterações do ambiente decorrentes das mudanças climáticas.

 

Por que algumas espécies mudam de cor no inverno?

 

Diferentes espécies de mamíferos e aves contam com a capacidade para mudar a cor da sua pelagem ou plumagem ao longo das estações do ano. Ao todo, são conhecidas pelo menos vinte e uma espécies que variam da cor castanha no verão para branco no inverno. Esta aptidão permite às espécies camuflarem-se na neve, diminuindo a probabilidade de serem predadas. Com a chegada tardia dos invernos e o degelo antecipado, resultantes das alterações climáticas, a cobertura de neve deverá diminuir a uma escala global, o que poderá ter impacto na sobrevivência destes animais.

 

Estudos anteriores tinham mostrado que a mortalidade de lebres americanas brancas no inverno em habitats sem neve era maior, o que pode levar a declínios populacionais importantes. Outros cientistas mostraram que o desfasamento entre a cor do animal e o habitat sem neve causou diminuições recentes da área de distribuição de lebres e outras espécies. “As doninhas do sul dos Estados Unidos e as lebres na Irlanda por exemplo evoluíram para manter a pelagem castanha todo o ano”, diz L. Scott Mills autor líder deste estudo. “Esta é uma adaptação genética para manter a camuflagem onde a neve é intermitente ou rara.”

 

A equipa internacional de investigação que agora publicou este artigo propôs-se estudar de que forma a evolução, através de um processo denominado resgate evolutivo, poderia salvar estes animais que enfrentam alterações climáticas bruscas.

 

Resgate evolutivo: da teoria à evidência

 

O resgate evolutivo consiste na recuperação de espécies ameaçadas, através da eficiência dos mecanismos evolutivos que atuam na diversidade genética existente e que permitem às populações persistirem sob condições ambientais adversas.

 

Neste estudo, foram mapeadas áreas específicas da distribuição de oito espécies com capacidade para mudar de cor incluindo lebres, doninhas e a raposa do árctico. Nas áreas denominadas “zonas polimórficas”, alguns indivíduos mantém a cor castanha no inverno e coexistem com os que mudam para a cor branca.

 

Por isso “as áreas polimórficas têm o ingrediente especial para um rápido resgate evolutivo”, explica L. Scott Mills. “Como contêm indivíduos castanhos no inverno que estão bem-adaptados a invernos curtos, nas populações polimórficas haverá uma tendência para que a evolução rápida ocorra no sentido de se ser castanho no inverno em vez de branco, à medida que as alterações climáticas continuam.”

 

Segundo explica o co-autor do artigo e investigador do CIBIO-InBIO José Melo-Ferreira, “a variação genética é importante para promover uma adaptação rápida. Se algumas características que já existem nas espécies são favorecidas pela alteração do ambiente, tenderão a aumentar a sua frequência”.

 

Zonas a preservar

 

Os resultados deste estudo indicam que as zonas polimórficas partilhadas por diferentes espécies, estimadas sob critérios mais abrangentes, distribuem-se por grande parte do hemisfério norte. Ainda assim, somente 10% destas zonas polimórficas multi-espécies coincidem com áreas protegidas.


Estas áreas “deverão ser preservadas, uma vez que aí as populações têm maior probabilidade de se manterem perante as alterações climáticas, e mesmo de funcionarem como o reduto de novas populações”, refere o investigador do CIBIO-InBIO Paulo Célio Alves. “Ao mapear estes pontos de elevado potencial adaptativo identificamos áreas onde podemos promover o resgate evolutivo no curto prazo, tentando manter as populações naturais abundantes e conectadas”, reforça a investigadora Eugenia V. Bragina co-autora líder do artigo.

 

Os autores alertam ainda que estes locais, embora potenciem o resgate evolutivo, não são fortalezas mágicas indiferentes aos efeitos das alterações climáticas nos animais selvagens. Até porque, os efeitos das mudanças do clima poderão ultrapassar a capacidade adaptativa de muitas espécies.

 

 

Artigo original:
Mills, LS, Bragina EV, Kumar AV, Zimova M, Lafferty DJR, Feltner J, Davis BM, Hackländer K, Alves PC, Good JM, Melo-Ferreira J, Dietz A, Abramov AV, Lopatina N, Fay K. Winter Coat Color Polymorphisms Identify Global Hotspots for Evolutionary Rescue from Climate Change. Science.

 

Imagens:
Imagem 1 e 2. Lebre americana, Lepus americanus, em pelagem de inverno| Créditos de imagem: Paulo Célio Alves

2018-02-16
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