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África: Grande Muralha Verde do Sahel coloca em risco a biodiversidade

África: Grande Muralha Verde do Sahel coloca em risco a biodiversidade
A Grande Muralha Verde representa um ambicioso projeto com o objetivo de combater a degradação dos solos, as alterações climáticas, a pobreza e a fome em África. Apesar da importância que esta iniciativa representa à escala global, até agora os possíveis efeitos negativos nunca tinham sido descritos.

Uma equipa pertencente ao grupo de investigação BIODESERTS do CIBIO-InBIO, Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, InBIO Laboratório Associado da Universidade do Porto vem alertar que estas alterações na paisagem à escala continental ameaçam a diversidade biológica adaptada às condições áridas do Sahel.

O estudo agora publicado na prestigiada revista "Conservation Biology” revela que, embora os múltiplos estudos tenham salientado os potenciais benefícios da Muralha Verde e o projeto tenha sido revisto de forma a evitar transformar-se numa monocultura de árvores, o impacto da implementação nas espécies adaptadas a ecossistemas áridos não foi levado em consideração.

Segundo Marisa Naia e coautores, a expansão de terrenos agropecuários e urbanos, bem como a plantação de espécies exóticas com comportamento invasor, irá alterar a composição das espécies nativas, fragmentar as suas populações e aumentar a pressão antropogénica em locais anteriormente remotos. Estas alterações na paisagem à escala continental ameaçam a diversidade biológica adaptada às condições áridas do Sahel e que já se encontra ameaçada.

Os projetos de reflorestação são vistos como uma das melhores soluções para combater as alterações climáticas e apesar dos possíveis aspetos positivos que a Muralha Verde providenciará, nomeadamente a nível social e económico, é necessário ter em consideração a sua localização e a composição de forma a minimizar os impactos sobre a biodiversidade local.

No entanto, apesar da grande dimensão do projeto e do envolvimento de várias entidades financiadoras internacionais, a localização exata da Muralha Verde, bem como a definição precisa dos locais que serão florestados, convertidos em terrenos agropecuários ou que os habitats naturais serão restabelecidos, não estão disponíveis publicamente.

Para além do conhecimento desta informação, os autores deste estudo defendem que estas iniciativas devem ser precedidas de avaliações detalhadas do impacto ambiental, baseadas em estudos científicos, por forma a garantir que os potenciais efeitos negativos sobre a biodiversidade de regiões áridas sejam minimizados, e que os objetivos basais de combate à desertificação sejam efetivamente alcançados de uma forma sustentável.

Artigo original: 
Naia M, Tarroso P, Sow AS, Liz AV, Gonçalves DV, Martínez-Freiría F, Santarém F, Yusefi GH, Velo-Antón G, Avella I, Hanson JO, Khalatbari L, Ferreira da Silva MJ, Camacho-Sanchez M, Boratyński Z, Carvalho SB, Brito JC (2021). A call for awareness about the potential negative effects of the Green Wall on Sahel’s biodiversity. Conservation Biology. DOI: 10.1111/cobi.13755

Imagem:
Imagem 1. Paisagem no Sahel, Mauritânia | Créditos de imagem: Marisa Naia
2021-04-27
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